No ano de 2001 ao me aventurar até
Mogi das Cruzes-SP para cursar faculdade de direito, algo parecido com os dias
de hoje acontecia na política local. O Governador a época era Mário Covas, que
ao decidir descer em um evento passando pelo meio de manifestantes foi agredido
covardemente. Este fato me deixou perplexo, por não compreender, por qualquer
motivo, uma agressão como aquela, sobretudo cometida contra a maior autoridade
do Estado. Eu imaginei estando em São Paulo, o quanto faltava em educação e
principalmente humanidade para quem agride uma pessoa, já idosa, diga-se de
passagem, e o quanto faltava em espírito republicano, para alguém que agride,
seja lá por qual motivo, a maior autoridade de um Estado devidamente
constituída e eleita pelo voto popular. Pensei (pasmem!), que isso nunca
aconteceria num Estado como o meu, onde já tinha presenciado inúmeras
manifestações, todas sempre muito pacíficas. Eis que hoje, um grupo de
manifestantes, que se diz da categoria dos professores, me fez engolir tudo que
comentei em São Paulo, diante da situação do ex Governador Mário Covas.
Hoje tive vergonha, pela primeira vez em 30 anos, de ser brasileiro,
sobretudo de ser amapaense.
Não entrarei no mérito discutido
entre professores e Governo, pois julgo que um acontecimento como esse é mais
sério do que qualquer ponto de divergência entre uma categoria e o poder
público. É absolutamente inaceitável a agressão sofrida pelo Governador Camilo
Capiberibe hoje na Universidade Estadual, que pelo divulgado sofreu agressão
física tendo um sapato jogado em sua direção e o acertando, se estendendo até o
Palácio do Governo, onde foram atirados ovos e de acordo com algumas pessoas,
até pedras. Nenhum acontecimento ou atitude de quem quer que seja é motivo para
a violência (física e moral, diga-se), quiçá a um Governador de Estado, eleito
democraticamente e sendo autoridade devidamente constituída. Também não generalizarei
quanto aos professores, pois esta não é a intenção, além de que conheço vários
educadores, inclusive que participam ativamente de movimentos sindicais e
justamente por conhecê-los acredito que jamais seriam capazes de fazer algo
deste tipo.
A verdade é que parte do povo
Amapaense está perdendo ou já perdeu o respeito por nossas autoridades, fato este
que é muito perigoso para um País com democracia relativamente nova, frágil e
subdesenvolvida como o nossa. Li em um texto uma vez, do qual não me recordo
para dar os devidos créditos, que a democracia sem o espírito republicano não é
saudável, pois o objeto regulador da democracia quanto às liberdades adquiridas
é a república, tanto para representantes quanto para representados. O fato de hoje só
me leva a crer que o que falta para alguns amapaenses é este espírito
republicano, pois as liberdades democráticas já são experimentadas há algum
tempo, tomando como exemplo as diversas manifestações contra atitudes do
próprio governador, sem que o mesmo interfira de forma alguma, e que os
manifestantes acabam por não saber utilizar levando a acontecimentos como o de
hoje.
Finalizo citando Maquiavel, para
que compreendamos o quanto é preciso evoluir para conseguir sair
deste imenso atraso em que nos encontramos, tanto como Estado, quanto como
cidadãos. “.. é difícil ou até impossível manter um Governo republicano em uma
cidade corrompida, ou de ali estabelecê-lo”.
George Arnaud Tork